PIB: O QUE MUDOU?

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Na semana passada, comentei sobre o PIB de 2023, mostrando que, em que pesem as boas notícias, a indústria de transformação e os investimentos ainda estão com desempenho negativo no ano, o que trará consequências adversas no futuro.

Aliás, a redução da participação da indústria de transformação e dos investimentos na formação do PIB é uma das causas do crescimento pífio que temos observado nas últimas décadas.

Vejamos o que aconteceu com a composição do PIB deste o início deste século. Do lado da oferta, a agropecuária passou de 5,0% para 9,0%, a indústria total caiu de 23,0% para 20,0% e os serviços mantiveram-se praticamente constantes em torno de 58,0%. Dentro da indústria, a extrativa mineral saiu de 1,5% para 3,5%, a de transformação passou de 13,0% para 11,6% e a construção civil caiu de 6,0% para 2,8%.

Estes dados mostram que estamos cada vez mais agrominerais, em detrimento da indústria manufatureira. 

Do lado da demanda, também houve alterações. O consumo das famílias passou de 64,0% para 62,0%, o consumo do governo saiu de 19,0% para 18,0%, os investimentos caíram de 20,0% para 17,5% e o setor externo saiu de -2,0% para 2,5%.

As reduções do consumo (famílias e governo) e dos investimentos foram compensadas pela maior contribuição do setor externo (de novo, agro e minério).

As alterações observadas na composição do PIB por ambos os lados (oferta e demanda) comprovam que nos tornamos um País primário exportador, com maiores investimentos nos setores agrícola e mineral, em detrimento de investimentos na indústria de transformação. 

Em que pese a importância da nossa atual estrutura exportadora (que deve ser incentivada), é preciso, para sairmos da armadilha de País de renda média, aumentar os investimentos em inovação e na indústria de transformação. As oportunidades com a transição energética e infraestrutura estão aí. 

 

Roberto Figueiredo Guimarães

Diretor da ABDIB e ex-secretário do Tesouro Nacional