Parece haver consenso de que em decorrência da pandemia do Covid-19 – em todas as suas fases, incluindo a mais recente que culminou com o fechamento do porto de Shanghai – e da guerra Rússia-Ucrânia, haverá ajustes nas cadeias produtivas globais ou cadeias globais de valor, com alterações na dinâmica do comércio internacional.
De fato, o risco de depender de poucas fontes de fornecimento de insumos e de produtos, fenômeno do crescimento da globalização verificado a partir dos anos 90, mostrou-se evidente, o que está levando governos e empresas e procurarem alternativas de suprimentos.
Mas não há o mesmo consenso quanto à velocidade, intensidade e caminhos da desglobalização, que, na verdade, já vinha dando sinais a partir da crise financeira de 2008.
Termos como reshoring (repatriação de fabricas favorecendo a produção doméstica), nearshoring (transferência da produção para países mais próximos), safeshoring (assegurar o suprimento) e slowbalization (redução lenta da globalização) têm sido recorrentes nas discussões empresariais.
O Brasil, que ficou de fora da onda da globalização, pois executou nas últimas décadas políticas econômicas que favoreceram as exportações de produtos primários (commodities agrícolas e minerais) em detrimento das de produtos manufaturados, precisa aproveitar as oportunidades que surgirão na esteira de alguma desglobalização e iniciar sua reindustrialização.
Jamais deixaremos de ser uns dos principais países produtores e exportadores de produtos primários do mundo, o que é muito importante. Mas, para sairmos da armadilha de país de renda média, precisaremos integrar o país à cadeia produtiva mundial da indústria, aproveitando, inclusive e principalmente, nossos ativos, que são as vantagens comparativas para garantir a segurança alimentar e a transição energética rumo a uma economia mais verde.
Roberto Figueiredo Guimarães
Diretor da Associação Brasileira da Infraestrutura e Indústrias de Base – ABDIB e Ex-Secretário do Tesouro Nacional