Editorial: O que esperar para 2022?

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No ano passado, apesar da grave crise com a eclosão da pandemia do COVID-19, havíamos pontuado fatores que poderiam ensejar uma perspectiva otimista para o setor de infraestrutura. Como se sabe, choques de curto prazo costumam se dissipar e ter pouco efeito na racionalidade de longo prazo de investimentos do setor. Apesar do frágil ambiente internacional, desalinhamento dos preços relativos e um cenário político conturbado, houve resultados positivos na infraestrutura. O ano de 2022 também carrega evoluções institucionais e regulatórias do setor de infraestrutura que se constituíram na última década. No entanto, fatores internos e externos trazem desafios para a economia brasileira. O ano é marcado ainda pelas eleições para Presidente da República e Governadores dos Estados.

Vale relembrar que no período recente, elementos positivos foram adicionados na dinâmica do setor de infraestrutura. Desde a criação do programa de parceria dos investimentos (PPI), importantes avanços puderam ser vistos. Resultados quanto a melhoria da governança, transparência e diálogo com o setor privado foram nítidos e reconhecidos pelo mercado. Projetos bem estruturados foram leiloados, obtendo êxito em seus objetivos. Em 2019 podemos recordar importantes reformas aprovadas. Os principais destaques foram (i) a nova estrutura das agências reguladoras, (ii) a lei de liberdade econômica e (iii) a aprovação da reforma da previdência. Em 2020, o (i) novo marco do saneamento e (ii) a nova lei de falências trouxeram boas perspectivas para o setor de infraestrutura.

Outras medidas legislativas possuem potencial de fomentar ainda mais o setor que tem obtido nos últimos anos relativo êxito nos projetos colocados à iniciativa privada. No triênio de 2019/21, foram efetuados 115 leilões, com geração de R$ 125 bilhões em outorgas. Para 2022, a perspectiva de leilões é bastante positiva, tanto na esfera federal quanto na dos estados. Pelo lado privado, as ações têm sido acertadas, mas a carência do investimento público expõe a dificuldade de se alicerçar planos perenes ao setor que culminem no aumento efetivo do estoque de infraestrutura do país e reduza as fragilidades nos mais diversos segmentos. Somente a condução sinergética entre os entes públicos e privados podem gerar a redução dos gargalos estruturais, aumento da competitividade e inserção em novos mercados.

O fato é que a despeito de importantes ações no setor de infraestrutura, o ambiente econômico externo e interno estão mais desafiadores. Pelo lado externo, a economia global ainda se mostra fragilizada com o descasamento da estrutura de demanda e oferta do comércio global, ainda resultado da pandemia. China, o principal parceiro comercial do país, mostra um arrefecimento do crescimento, com cortes expressivos na produção de aço para a contenção do aumento dos preços das commodities e alinhamento com as questões ambientais. O impacto de um patamar mais baixo dos preços das commodities brasileiras, em uma configuração ainda mais reduzida, poderá ser outro fator de preocupação para 2022. O ponto positivo é que a depender da magnitude e efetivação do plano de infraestrutura dos EUA, esperado em U$S 1,2 trilhão, uma importante fonte de dinamismo externo pode ser adicionada na economia brasileira.

Ademais, o desemprenho do Brasil na COP26 surpreendeu positivamente, passando uma imagem de maior comprometimento quanto a questões da agenda ambiental. Em um ambiente onde pilares ESG e de sustentabilidade são essenciais para a canalização de recursos para investimentos privados no país, tal sinalização é de grande importância.

Pelo lado interno, a desarticulação das cadeias produtivas globais gerou um desarranjo substancial da economia, com um aumento generalizado dos preços. Tal efeito nos principais indicadores de inflação do país é agudizado pelo patamar apreciado da taxa de câmbio. O aumento substancial da inflação e consequentemente dos juros dificultam a retomada da economia em um ambiente de baixo dinamismo. Nesse ambiente, complexo, temos ainda uma das maiores crises hídricas contemporâneas, que agrava ainda mais as expectativas de inflação diante do rebate no preço da energia e, consequentemente, na cadeia produtiva.

Por último, mas não menos importante, é salutar ressaltar que a sinalização da política fiscal carece de um melhor direcionamento. O investimento no orçamento precisa ser preservado e expandido ao passo que ações que solapem a boa condução da política fiscal e a estabilização da dívida pública no longo prazo sejam veementemente evitadas. Um ambiente político e institucional mais harmônico é também fator importante para a melhoria do ambiente de investimentos do país. Embora o investidor olhe a demanda, retorno ao capital investido, boas condições regulatórias e segurança jurídica no planejamento de seus investimentos, a estabilidade político-institucional é fator de grande relevância na tomada de decisão.

Esperamos que o processo eleitoral consiga estabelecer uma convergência de interesses na sociedade que possibilite a definição de uma estratégia de desenvolvimento mais atrativa ao investimento de longo prazo.

 

Venilton Tadini e presidente-executivo da Abdib

 

Texto publicado originalmente no relatório anual 2022 da Abdib, a ser lançado em janeiro de 2022.